Lyx Insights: Conhecendo novas raças

A jovem gnoma se encostou perto da janela, observando a bela cidade elfica do outro lado. Lyx não sabia ao certo se gostava daquela beleza, os elfos pareciam demasiadamente preocupados em equilibrar as coisas: as cores não eram cinzentas demais nem brilhantes demais, as texturas não eram lisas nem ásperas demais, a natureza tão presente era perfeitamente controlada de uma forma que simplesmente parecia artificial (até os vaga-lumes pareciam saber exatamente quando e onde iluminar). Ela percebeu que, no final das contas, os elfos não eram praticamente nada do que ela havia imaginado que fossem.

Ela se afastou da janela e se sentou no chão, encostada na sua grande amiga Fyrah, acariciando gentilmente as orelhas da amiga, ela sorriu levemente ao pensar que mesmo fora de Swyn e com tantas pessoas novas, sua querida cachorra ainda era sua melhor amiga e a única que parecia entendê-la de verdade.

- Você acha que vai ser assim para sempre Fyrah? Eu e você juntas enquanto todos os outros estão ocupados demais com maldições, profecias, deuses e rainhas?

A cachorra soltou um breve latido em resposta, o que Lyx aceitou como sendo uma confirmação.

Ela abriu a bolsa, procurando o pequeno caderno de capa colorida. Lyx realmente gostava dessa tradição: que cada gnomo escrevesse um diário sempre que saísse da ilha e o devolvesse quando voltasse para Swyn. 

Ler os diários na biblioteca sempre a tinha feito sentir como se ela mesma já tivesse cruzado o mundo e conhecido tantas coisas maravilhosas. Ainda assim, ela tinha chegado à conclusão de que como tantas coisas na vida, é preciso ver o mundo com seus próprios olhos, viver suas próprias experiências e tirar suas próprias conclusões. 

Ela pegou a tinta e começou a escrever:

...

“Eu costumava ler sobre outras raças, e é claro que cada um tem uma opinião diferente, mas eu achava que tinha uma boa ideia da realidade. 

Os elfos, por exemplo, deveriam ser altos, belos, inteligentes e.. bom, acho que eu esperava que eles fossem, das outras raças, a mais parecida com a minha. GRANDE engano. Eles são orgulhosos, xenofóbicos, egocêntricos, e em geral bastante mal educados. 

E você imaginaria que uma raça que vive para sempre iria saber aproveitar a vida, certo? Mas na verdade eles vivem num tipo de alienação que é possivelmente a pior em comparação a todas as raças que eu tive a oportunidade de conhecer. Os seus ancestrais aprenderam artes refinadas, e eles simplesmente repassam esse conhecimento para sempre e para sempre infinitamente sem questionar nada. 

Eles não tem nenhuma pretensão de sair de suas casas, conhecer o mundo e aprender coisas novas, ver coisas novas, provar sabores novos, conhecer pessoas novas, enfim... efetivamente VIVER essa eternidade de que gostam de se gabar. Eles acham que sabem tudo e que fazem tudo com tamanha perfeição que nada no mundo poderia fazer valer a pena conhecer. 

Além de tudo isso, nenhum deles se deu ao trabalho de ao menos tentar me tratar com gentileza. A maior parte deles não parece gostar de mim e... bom, para falar a verdade acho que mesmo o Falin a maior parte do tempo apenas me suporta, mas ficaria muito feliz em me substituir por um versão menos... hunn... gnoma. 

Ainda assim existem surpresas agradáveis no mundo. Por tudo que eu li eu teria esperado que os anões fossem criaturas rudes e intolerantes, que tivessem a mente fechada e provavelmente me quisessem o mais longe possível, mas de todas as pessoas no grupo, eu acho que posso ter bastante certeza de que o Baruk é o único que verdadeiramente gosta de mim... 

Quer dizer, eu acho que irrito ele de vez em quando também, mas tenho a impressão de que apesar de tudo ele não preferiria que eu fosse outra pessoa que não eu mesma. 

E mesmo que eu esteja errada quanto a isso, os anões AINDA merecem o maior mérito entre todas as raças que eu conheci, porque tanto o Baruk quanto o Kiu Dem se mostraram mais gentis, amigos e abertos a novas experiências do que todas as outras raças que eu conheci até o momento (talvez com exceção da Biniweed). 

E eu não sei dizer se isso realmente se aplica a todos os anões, já que eu só conheci eles dois, mas eles definitivamente me surpreenderam.” 

...

Lyx parou por um momento para pensar em onde iria chegar com esse texto. Escrever sobre as impressões que ela havia tido sobre as outras raças a fazia se perguntar sobre o que seus companheiros realmente pensavam dela. 

Parecia improvável que qualquer um deles algum dia tivesse parado para se perguntar se a Lyx era realmente tão irritante quanto eles pareciam acreditar que ela era ou se ela era, na verdade, apenas uma gnoma como qualquer outra. Ela não achava que nenhum deles estivesse preparado de verdade para conhecer outras raças e outras culturas e que provavelmente se surpreenderiam com o fato que ele não era, nem de longe, um dos exemplares mais falantes (ou irritantes) de sua raça. 

Será que eles se sentiriam melhor se ela fosse outra pessoa? Talvez uma humana distraida com medo de fadas? ou uma elfa enfadonha que se achasse inteligente demais para dividir seus pensamentos com eles? 

Em parte ela esperava que se ela fosse muito persistente, se ela não desistisse deles, talvez um dia eles entendessem o que ela realmente era, talvez um dia eles percebessem que a personalidade de um gnomo é mais do que simplesmente um caminho escolhido, que os gnomos precisam viver numa escala um tanto mais amplificada do que as outras raças só para poderem manter suas essências acesas, só para ter certeza que suas cores nunca se apagassem.

Parecia difícil para qualquer um dos outros entender que falar o que ela pensava e fazer o que ela sentia eram mais do que ações que ela tomava para irritá-los, que ela efetivamente precisava viver a sua essência para não deixá-la se apagar...

Ela suspirou longamente, depois voltou os olhos novamente para o diário para reler o que havia escrevido, em seguida olhou para a Fyrah e sorriu:

- Há! Acho que estou filosofando de novo Fyrah... se o Rumple lesse isso aposto que iria dizer que estou virando uma velha chata, não é?

A cachorra soltou um breve latido em resposta.

- Você está certa, acho que isso está sério demais para o meu diário... desse jeito vou colocar todos os gnominhos que lerem esse maravilhoso diário para dormir.

Lyx nunca gostava quando as coisas ficavam sérias demais, ou pessoais demais, ou sentimentais demais. Ela rasgou a página e começou novamente, dessa vez tentando se concentrar mais em fatos e não em divagações sobre a essência das coisas.