Um sonho para Baruk

O anão mal tinha adormecido, quando se viu no que parecia ser o convés de um navio, ele sequer teve tempo de tentar compreender o que estava acontecendo quando uma pequena mão segurou a sua.

- Vamos Baruk, é por aqui…

Lyx olhou para o amigo e sorriu

- Esse vai ser o sonho mais maravilhoso da sua vida - Ela puxou o braço do anão até ele começar a segui-la até a saída do navio.

Eles desembarcaram num pequeno porto. Todo o cais era feito com pranchas de madeira multicolorida. De longe parecia um trabalho imenso que alguém mantivesse aquilo limpo e pintado, mas conforme o anão pisava no cais começou a notar que não havia tinta alguma ali: era como se a própria madeira tivesse cores impossíveis.

O porto não parecia muito agitado, mas era possível ver alguns gnomos trabalhando por ali: não marujos grosseiros e rudes, mas pequenos rapazes e mulheres, com roupas leves e coloridas conversando e rindo como se o trabalho fosse apenas mais uma brincadeira. O cheiro não parecia muito certo também: não aquele cheiro forte de peixe, suor e cerveja que se costuma encontrar nos portos, mas era como se a brisa marinha trouxesse consigo um cheiro de madeira e flores.

- Aqui!

Eles haviam parado próximos a uma grande construção feita de pedra e pintada quase completamente de roxo, com uma grande porta dupla de madeira amarela. A placa na entrada dizia "Toca de Gigantes"

- Essa é a taverna da ilha, é aqui que nós recebemos os nossos visitantes que chegam no porto, e também acho que é o único lugar em que vc vai encontrar coisas do seu tamanho.

Ela continuou andando e logo após a taverna havia o que parecia ser um mercado a céu aberto. Ali havia humanos, além de algumas pessoas de outras raças, negociando com os gnomos que ofereciam os produtos mais variados: de peças de artesanato a invenções mirabolantes.

Passado o mercado, Baruk se viu de frente para uma pequena entrada numa cerca viva envolvia o que parecia ser o núcleo da cidade dos gnomos. A entrada era despretensiosa mas havia alguns gnomos por perto que deram uma boa olhada no anão quando ele passou.

- Eu não recomendaria entrar aqui sozinho… ninguém vai te impedir, mas eles vão ficar no seu pé o tempo todo. Nós não temos nada contra os visitantes, mas cuidamos das nossas coisas e não tem muito o que uma pessoa grande fazer aqui se não estiver visitando um de nós, então somos cuidadosos. - Ela sorriu e continuou caminhando.

A rua principal era feita de tijolos pintados de dourado e todas as outras ruas pareciam ter uma cor própria. As casas eram pequenas, razoavelmente afastadas umas das outras e todas elas pareciam ter um jardim diferente coberto de flores das mais diversas cores e espécies. Alguns moradores pareciam se importar em organizar o jardim em ordem cromática e separar os tipos de flores, outros pareciam simplesmente apreciar o caos.

As casinhas não seguiam nenhum tipo de padrão de construção: algumas eram quadradas, outras redondas, algumas se pareciam com tocas, outras com cabanas, mas todas, sem exceção, eram pintadas de cores fortes.

Os gnomos andavam para lá e para cá cuidando de suas vidas, com seus cabelos coloridos e suas roupas exóticas, e a visão daquelas pessoinhas felizes em meio ao ambiente colorido e florido parecia sair diretamente de um conto de fadas, como se a própria cidade emanasse vida, cor e exuberância; como se tudo ali estivesse a um passo do impossível.

Uma gnoma bonita e de seios fartos passou por eles, deu uma piscadinha para Baruk e Lyx riu mas continuou puxando o anão até uma construção mais próxima do fim da rua principal, era uma casa larga e baixa, feita de tijolos e toda pintada de verde, o teto da casa era coberto de grama e repleto de flores azuis que pareciam ninféias sobre a grama. Havia grandes janelas e uma porta dupla.

- Essa é a minha casa!!! Mas acho melhor darmos a volta para eu te mostrar o lago.

Lyx conduziu Baruk ao redor da casa até sair nos fundos do local. A parte de tras da casa dava num jardim espaçoso que ia até um lago largo e seguia para um bosque com arvores de tronco multicolorido.

- E esse aqui, bem na sua frente, é o meu lugar favorito em todo o mundo!!!

Havia um clima de tranquilidade ali que era quase incompatível com a personalidade da Lyx, mas quando ela se aproximou da beira do lago e sentou com os pés dentro da agua aquilo pareceu fazer sentido, como se ela se encaixasse ali, como se o lago e o bosque e as flores sentissem falta dela e como se o cheiro das flores e da água e das árvores fosse o cheiro de lar.

- Muitas pessoas acham que a ilha é mágica e que nós encantamos tudo para ficar colorido, mas isso é uma grande mentira.

Baruk se viu sentado ao lado de Lyx, descalço e com os pés dentro da água.

- Segundo as histórias registradas na biblioteca, a ilha já era assim quando os fundadores chegaram aqui: como se tivesse vindo direto dos desejos mais profundos dos gnomos, e foi por isso que eles resolveram começar a cidade aqui.

- Além disso, muitos gnomos vieram para cá estudar as plantas, e muitos deles fizeram experimentos e criaram novas espécies de flores e arvores e grama e arbusto e tudo mais.

Ela respirou fundo olhando para o lago.

- Mas a minha mãe achava que tinha outra coisa também, ela era uma Druida sabe, antes de se aposentar, e ela dizia que a terra vive com a gente e aprende com a gente também, que quando um povo vive por muito tempo em um lugar, a forma como esse povo vive nesse lugar também começa a fazer parte do que o lugar é.

- Agora, o que você acha de voltarmos para taverna para você provar um pouco da cerveja de casca de arvore avermelhada?

Baruk quase podia sentir o cheiro da cerveja quando tudo sumiu, e ele abriu os olhos e percebeu que estava de volta em Magnimar.