Quão variados podem ser os pontos de vista? Quão variadas podem ser as pessoas e suas personalidades? A partir de perguntas como essas podemos começar a pensar em quão diversificado pode ser um grupo de aventureiros em um mundo tão repleto de maravilhas e mistérios. Neste caso em especial, estamos falando de um grupo que inicialmente foi composto por um Anão, por um Elfo, uma Gnoma e um Humano. Peço neste ponto, caro leitor, que não tenha grandes expectativas sobre essa história. Nesta época o grupo de aventureiros não tinha a liderança efetiva que tem hoje. Eles ainda não tinham conhecido esta fada que vos fala (qualquer piada com o trocadilho “essafada” será punida com a morte!).
De qualquer forma, era um dia ensolarado em Sandpoint. As casas, feitas com base em pedra e estrutura de madeira foram construídas espalhadas, de forma desordenada. Ainda que a falta de planejamento da cidade fosse evidente, a proximidade das casas e a arquitetura variada fazia com que fosse bastante aconchegante. O tipo de lugar em que todos se conhecem e todos vivem confortavelmente falando uns da vida dos outros. As ruas principais, feitas de paralelepípedos foram construídas assim somente para ajudar as caravanas mercantes que, volta e meia estavam de passagem. A maior parte das ruas era feita de terra e todos pareciam confortáveis com isso.
Ainda que não fosse uma cidade muito tranquila, já que o porto também trazia as mais variadas figuras do mar, neste dia Sandpoint estava ainda mais agitada do que de costume. Estava no meio de um festival de comemoração à deusa das estrelas e dos viajantes. Diversas tendas de muitas cores estavam armadas bem em frente ao grande templo na parte norte da cidade. Os humanos estavam fazendo o que mais gostam! Trocar presentes por pequenas rodelinhas brilhantes (confesso que eu ainda não entendi muito bem como essa coisa de trocas por coisas brilhantes funciona. Os humanos parecem que trocariam até as mães por elas).
Foi neste contexto que Madame Niska, uma velha encarquilhada que vive em uma grande mansão na avenida principal conseguiu reunir em seu salão de visitas o sempre emburrado Anão Baruk, o ágil Elfo Falin, a hiperativa Gnoma Astralyx e o desconfiado Humano Deadrink (Agora francamente né? Tá bom que o cara queria ser temido pelo nome e tal, mas imagina o que a guarda da cidade diria se encontrasse com ele? “Hey, rapaz qual é o seu nome?” ele falaria “Deadrink” e a guarda “Sua mãe que te deu esse nome?” ele “Não, foi eu” eles “Isso é nome de bandido! Tem que tomar porrada!”. Se eu fosse o guarda pelo menos eu faria isso).
Enfim, estava este distinto grupo de pessoas no salão de visitas de Madame Niska, aí eles conversaram alguma coisa mais ou menos assim “Hey seus aventureiros sem a liderança de uma poderosa fada, eu preciso mandar vocês em uma missão super difícil que talvez todos morram!”.
O Baruk deve ter dito “Ah! Tudo bem eu como missões perigosas no café da manhã!”
E o Falin deve ter dito “Eu sou um Elfo que faz super acrobacias legais! Manda que eu mato no peito!”.
A Lyx falou “Blá blá blá blá blá explosão blá blá!” (aí ela deve ter feito aquela coisa que irrita todo mundo que é falar na super velocidade de gnomos!)
“Bláblábláblábláblábláexplosãoexplosãobláblábláblábláblá!”.
Uma Elfa amiga de Niska estava lá também, e com as informações dela, eles descobriram nesse dia que a magnífica floresta de Laurelin, que fica a leste da cidade estava sob o ataque de Orcs. Que estes Orcs estavam se reunindo, e várias tribos estavam lutando por um objetivo comum que ainda era um mistério. Descobriram que fadas estavam sumindo na floresta e que para descobrir quem estava por trás disso tudo eles teriam que ir conversar com uma terrível bruxa que vive no coração de Laurelin. Uma bruxa que sabe de tudo no mundo!
Fizeram então um acordo com a velha de Sandpoint. Eles salvariam sim as fadas e resolveriam a causa do mal que abate a floresta, mas que para arriscarem suas vidas, salvar as fadas e estarem sujeitos a serem dilacerados, rasgados, estuprados e condenados terrivelmente, eles teriam que ganhar muitas rodelinhas brilhantes amarelas! (É como eu disse, vai entender né?).
Depois de tudo resolvido eles então saíram pra pegar tudo o que seria necessário para completarem a sua missão. O Elfo Falin estava com a cabeça coberta por um manto mágico que ocultava a aparência dele, todos que olhassem pra ele viriam um Humano. Isso era uma grande vantagem em uma cidade como Sandpoint, lá não existem muitas pessoas de outras raças, então os seres humanos consideram todas elas como mágicas e perigosas.
Então, enquanto estavam decidindo qual rumo tomar, uma agitação acometeu a cidade. Pessoas passaram correndo pelos aventureiros e fogo e fumaça começaram a aparecer em diversos locais. Uma risada grotesca conseguia ser ouvida ao mesmo tempo em que gritos suplicantes se elevavam acima da histeria da multidão. Imediatamente, os heróis foram ao encontro da fonte da desordem e conseguiram ver o que estava acontecendo. Glutões musculosos de pele verde espalhavam o morte e destruição com grandes espadas curvas e serrilhadas nas mãos. As cenas de caos e tortura tomavam lugar logo em frente ao templo e era para lá que os heróis se dirigiram para proteger as pessoas que estavam se abrigando sob o teto de seus deuses.
Então, aos pés da escadaria de mármore eles montaram a sua resistência. Um martelo fez um arco de cima para baixo explodindo com um som retumbante no peito de um Orc! Uma, duas vezes! Cada batida do anão Baruk era como um trovão. Os outros Orcs que estavam em volta se detiveram assustados por um momento, mas logo se apoiaram em sua vantagem numérica para atacar o estoico guerreiro. Três deles vieram ao mesmo tempo, mas as táticas de batalha de Baruk eram de longe superiores às das criaturas, uma lâmina cortante se chocou contra o malho de ferro fazendo voarem algumas faíscas. Recuando enquanto se defendia, Baruk agora subia as escadas enquanto era atacado e contra atacava. Mais um baque, e o anão conseguiu sentir nas mãos o estralar do maxilar de um Orc que foi arrancado pelo ataque lateral do martelo. Os degraus tão brancos de mármore agora começaram a se manchar de um vermelho enegrecido com as mortes das criaturas que caíam mortas.
Da porta de entrada do templo, um raio gélido azul passou silvando por cima da batalha do anão estourando no peito de um Orc. Mais uma das criaturas jazia inerte aos pés da escadaria. Os cabelos da Gnoma tinham um tom vivo de azul e as mãos de Astralyx ainda formigavam com o gelo residual da magia que tinha conjurado. Ainda que assustados pela magia letal lançada pela heroína, os aldeões passavam aos montes sob o arco de entrada da igreja.
Deadrink sacou duas espadas e a dança letal de seus movimentos confundia os Orcs que se aproximavam. Sem saber a hora certa de atacar, em um momento uma garganta de Orc foi aberta pela lâmina do aventureiro. O monstro caiu de joelhos gorgolejando enquanto morria. Outros tomavam o seu lugar para terem o mesmo fim.
Falin, sempre um observador atento, procurava a forma mais rápida de conseguir a vantagem sobre o conflito. À volta do templo, a guarda local matava e morria enquanto enfrentava as terríveis criaturas. E no centro da praça comercial, enquanto tendas ardiam e o caos se propagava, estava o opressor que se distinguia dos demais. Alto e musculoso, ele estava montado em um cavalo. Tinham a cara e o corpo coberto de pelos duros e rançosos, olhos avermelhados assim como a cor de sua pelugem. O Hobgoblins tinha um colar de orelhas humanas e dava ordens apontando com a espada para onde os Orcs deveriam se mover. Vinha andando e gritando com uma voz que pareciam uma mescla de grunhidos e latidos “Ordenha esses gado para o abate seus cão podre! Que entrem dentro do templo e que morram sob os olhos de seus deuses!”.
A essa altura, a escadaria estava banhada em sangue e corpos de Orcs. Baruk e Lyx ajudavam as pessoas a entrarem enquanto mantinham os Orcs do lado de fora. Os heróis mostravam sinais de abatimento. Baruk tinha um talho no ombro que fazia com que sua armadura de couro acolchoado ficasse enegrecida com o seu sangue. Falin então correu ao encontro do Hobgoblin. Ele tentou acertá-lo com um golpe veloz como o bote de uma serpente, mas Falin era ainda mais veloz. Esquivando-se do ataque Falin apoiou-se no braço do inimigo e antes que ele pudesse fazer alguma coisa, com uma acrobacia felina pulou fazendo um arco e indo parar sentado na mesma seja atrás do seu oponente.
Por um momento o Hobgoblin não soube o que fazer e a sua cara de desespero foi o suficiente para desmoralizar os Orcs que estavam com ele. Falin queria trazê-lo para o chão, então se segurou no corselete de couro da criatura e pulou pela parte de trás do cavalo. Por mais habilidoso que Falin fosse, ainda assim o líder do ataque ainda era mais forte e conseguiu se manter na sela. Com um movimento gracioso Falin caiu em pé atrás do cavalo e o Hobgoblin teve tempo de se virar e rir do Elfo. Mas assim que se virou para encarar o que estava na sua frente não teve tempo para se esquivar do que estava por vir. Impetuoso de fúria, Baruk empregava toda a sua força em uma martelada que quebrou das pernas do cavalo. Com um grito desumano de desespero o Hobgoblin vinha agora ao chão com o cavalo caindo sobre a sua perna, fragmentando os ossos dentro dela em pequenos pedaços. A ultima coisa que o líder dos monstros viu, foi a face lisa de um martelo de ferro obliterando a sua existência.
A guarda da cidade parecia ter a situação contida e os Orcs que restavam pareciam perdidos sem saber qual direcionamento tomar. Mais marteladas, raios de gelo e espadas rápidas como um raio deram cabo do que parecia ser um infinidade das criaturas, porém, depois de um tempo a tensão foi amenizada, enquanto os heróis olhavam atentos para que nenhum Orc passasse pela entrada do templo, palmas foram ouvidas vindas do lado de dentro. Aclamação e euforia encheram o salão de orações do templo quando uma frase era gritada pelas muitas vozes dos aldeões:
“Heróis de Sandpoint!”
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